quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Como se faz com todo o cuidado a pipa que precisa voar

Em meio às notícias sobre campanha políticas, pesquisas, informações e jogos sujos que ronda o país neste momento de definição do nosso futuro. Em meio aos problemas do dia a dia e de transformações que vão acontecendo principalmente nos últimos anos em minha vida. Em meio a dias cheios de trabalho e responsabilidades novas que vão ganhando corpo a cada passo rumo à conquistas e sonhos que almejei para mim mesmo. De vez em quando há momentos em que se para, respira e se reflete sobre tudo isso que se está vivendo.

Uma das coisas que mais me chama atenção são minhas próprias palavras postadas no meu blog há mais de dois anos. Ler aquilo e ver como o que imaginei o que aconteceria, como estou hoje e como acho que estarei daqui a algum tempo. Tudo vem me acompanhando nesses dias ora frios ora quentes, nessas idas e vindas por São Paulo onde a cada instante uma história nova surge em minha cabeça, uma idéia nova, um novo plano pra realizar.

E o acaso me faz surpresas que deixei que acontecessem da maneira em que tiver que acontecer e em sua maioria tem me trazido coisas boas, experiências que por mais difíceis são parte do aprendizado, de cada passo que se dá rumo ao que chamamos de vida.

Hoje, no caminho de casa, já embarcando no metrô, recebo uma ligação/convite de minha amiga e irmã Bruna para fazermos alguma coisa, qualquer coisa, um lanche, um teatro, uma conversa, coisas que gosto muito de fazer com ela. Nesse pequeno intervalo de passos o meu dia mudou, e já vinha sendo bom, por sinal.

Depois de conversarmos sobre nós, depois de ler coisas sobre mães e como isso se constrói em cada nova etapa de nossas vidas, cordões umbilicais rompidos, responsabilidades como filhos que somos e como fomos preparados para enfrentar cada situação que nos apresenta à frente e lidar com elas.

Em meio a tudo isso, o acaso nos levou a uma sala de cinema em busca de alguma história que pudesse nos divertir, acalentar e fazer sentir bem. Em cartaz, o filme Léo e Bia de Oswaldo Montenegro que por motivos pessoais escolhi para que víssemos e falar sobre depois com pessoas importantes.

A grata surpresa então se apresenta de maneira sublime, tocante, emocionante e que nos tomou em cheio por tudo aquilo que havíamos dito momentos antes de entrar naquela sala. O filme, nem é um filme como um cinema tradicional, parece-se mais como um teatro travestido de cinema, inspirado claramente em obras de Lars Von Trier, onde o espaço habitado não é necessariamente visto por nós, mas sentido. E o filme nos fez justamente sentir tudo aquilo que estamos passando, como a relação mãe/filha de cumplicidade, de insegurança, de amor que pode ser chamado por muitas outras coisas, e até em sua maioria adjetivos pejorativos, mas ainda assim amor. E a liberdade que se busca e a luta por seu sonho, por seguir atrás disso até de modo ingênuo. A cada palavra dita, a cada música cantada, aquilo ressoava como se pudesse fazer sentido naqueles que estavam lá, assistindo uma história que ocorreu décadas antes, num contexto completamente diferente do nosso dia a dia, em um mundo onde se acreditava em utopias.

Mas a história se passava como se estivéssemos à beira do mar, e cada onda que molhava nossos pés era como se também os lavasse e criava uma re-significação impressionante. O momento do filme era outro, o contexto do filme era outro, mas toca porque é ainda vivido por aqueles que têm sonhos e que buscam um vôo atrás deles. Os medos, anseios e as limitações estão todas lá, ainda são as mesmas, por mais que os jovens de hoje sejam bem mais velhos do que aqueles representados na história. E o desejo e a cumplicidade entre eles tornam tudo mais real para nós, que não fizemos parte daquela geração.

O filme termina com uma sensação de catarse e anestesia por ter sido tão surpreendente em quanto forma de arte, daqueles que se fica pensando um bom tempo com os créditos surgindo na tela e a sensação que não gostaríamos de abandonar aquela história que nos foi mostrada.

Na volta pra casa um silêncio cúmplice mas que demonstrava o que nos é querido, desejado, sonhado por uma geração de garotos ingênuos que resolvem sair do ninho para buscar a vida e o mundo. A certeza que ainda existe o sonho e a vontade, e que isso é o primeiro passo para se alcançá-los.

Quando Oswaldo Montenegro nos cantou: Como castelos nascem dos sonhos/Pra no real achar seu lugar/Como se faz com todo o cuidado a pipa que precisa voar/cuidar de amor exige maestria. E Léo, Bia, Maria Luiza e Stela souberam amar.



Para: Bia, Maria Luiza, Bruna e Stela.