quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Sobre cigarros e a Lua


Era madrugada, era dezembro, claro que chovia.

No carro, voltando pra casa, o som espocando...

Your eyes...


They turn me...


Na rua nem uma alma viva

Não sei, me deu vontade de parar o carro

Assim, no meio do nada

Fiquei parado, sentado no capô

A chuvinha fina deu uma trégua

Comecei a enxergar as estrelas

Acendi um cigarro meio amassado já

Dei aquela tragada profunda que se fecha os olhos

E ouvi:

- Acho que te conheço de algum lugar

Olhei pra Lua, ela tava com um sorrisão

Inevitavelmente meu sorriso se estampou também

- Filha de Orfeu...

- Tás mudado, hein?

- Vixe, bastante. Nem sei dizer o quanto...

- Tenho visto.

- Tudo. Tudo resolvido. Nem um fio solto, nada. É até estranho.

- Por quê?

- Todos os planos e metas foram resolvidos e alcançados... E agora, tenho que repensar e planejar coisas melhores, novas, diferentes. É estranho não ter nada pra se resolver.

- Mas sabe que é bom?

- É, é ótimo. Sentimento de leveza. Pronto pra tudo o que aparecer.

- Tipo o que?

- Ah, sei lá... Sinceramente, nem posso dizer que me conheço direito. Não sabia que eu podia ser tanta coisa que às vezes até me assusta.

- Assusta por que?

- Porque não tenho medo de fazer as coisas, nada.

- E vai fazer o que agora?

- Nem sei, talvez tudo. Na minha agenda tá tudo riscado, tem que comprar outra pro ano que vem e escrever coisas novas.

Outro cigarro acesso.

- E ano que vem, Jaci, ano que vem... Muita coisa boa!

- Então já tem planos?

- Planos não, sonhos...

- Hum!

- Sonhos realizados. Por isso que eu digo não faltou nada, foi tudo!

- E pra onde correr?

- Talvez eu compre um mapa, talvez uma bola de vôlei e siga sem saber muito bem pra onde ir, sem rumo, esperando a próxima curva, a próxima chegada.

- Sozinho?

- Não...

- Hum!

- Eu e a Lua.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A quem interessar possa

Um dos meus maiores defeitos, pra mim, é a falta de hábito de leitura. Engraçado que quando eu viajo eu leio bastante, devoro livros inteiros como se fosse história em quadrinhos, mas quando desembarco aquele livro ali sempre fica adiado, de lado, guardado na estante.

No início deste ano eu visitei a livraria cultura em SP e fiquei babando por um monte de coisas lá, entre elas a coleção de Saramago, mas acabei nem comprando, levei outros técnicos ou mais suaves.

Até que vi o filme Ensaio Sobre a Cegueira e no final eu não conseguia me levantar da poltrona, mesmo os meus amigos já longe da sala.

Na sequência, minha mãe fez aniversário e não pensei duas vezes, comprei o livro pra ela. Sim, sim, foi um presente meio pensando já no depois que ela acabasse de ler.

E vai coincidir com o cumprimento das minhas metas de 2008 e para 2009 já tenho a segunda (a primeira vide os posts anteriores) que é me debruçar sobre a obra dele.

Agora, como o maomé não foi a montanha, o Saramago tem um blog, tá aí nos meus cliques perigosos.

Por ora, já é pelo menos um pouquinho do que me aguarda ano que vem.

Até daqui a pouco.

: )

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Há exatos dez anos começou uma história que tem data para o seu ápice

22 de março de 2009

Vendo um comercial na tv, achei a música muito bacana

E eu no alto da minha vida grunge, punk rock

Eu gostei daquela música mais quieta

Desde então, não consegui mais parar

Eu que enjoava facilmente das músicas,

a minha música preferida foi a segunda q eu ouvi do radiohead

E fiquei ansioso pelo Kid A

Pelo Amnesiac

Pelo Hail To The Thief

E mais ainda pelo In Rainbows

E mais ainda pelo show

Que já tem data pra acontecer: 22 de março de 2009

A partir de agora, é contagem regressiva

Hoje, como tudo começou

Beijos

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Heaven knows, it´s got to be this time...

Eu estou compulsivamente escutando esta música

Direto, o dia inteiro

Ela foi primeiramente gravada por uma banda chamada Joy Division que tinha um cara no vocal chamado Ian Curtis que é uma das três referências de vocalistas que eu tenho pra mim

Depois q ele morreu, a banda se transformou no New Order e ficou meio animada

E fizeram a versão da música mais conhecida

Ano passado, por meio de um webcast, o Radiohead resolveu fazer uma cover dessa música

o Radiohead de Thom Yorke, que é uma das três referências de vocalistas que eu tenho pra mim

Ou seja, misturaram Joy Division e Radiohead, Ian Curtis e Thom Yorke

Compulsividade só poderia ser a melhor palavra pra explicar a minha relação com esta música



Ceremony

This is why events unnerve me
They find it all, a different story
Notice whom for wheels are turning
Turn again and turn towards this time
All she ask's the strength to hold me
Then again the same old story
World will travel, oh so quickly
Travel first and lean towards this time.

Oh, I'll break them down, no mercy shown
Heaven knows, it's got to be this time
Watching her, these things she said
The times she cried, too frail to wake this time.

Oh I'll break them down, no mercy shown
Heaven knows, it's got to be this time
Avenues all lined with trees
Picture me and then you start watching
Watching forever, forever
Watching love grow, forever

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

As Invasões Bárbaras



Fantástico!

Mais, clique na imagem!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008


Radiohead Tour Dates

Bom,

Eu tinha algumas resoluções de 2009, coisas q a gente faz todo o ano e que nunca dá certo...

1ª) Fazer poupança

2ª) Mudar de Emprego

3ª) Comprar meu carro

4ª) Levar uma vida tranquila e saudável

Ahhh, esquece! Já desisti delas antes mesmo do ano novo chegar...

Minha vida toda está condicionada a março de 2009

O resto que espere

Não consigo pensar em outra coisa e nem conseguirei...!

Vou fazer a contagem regressiva assim q divulgarem a data...

Quem vai?

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O Grande Prêmio

Cinco luzes vermelhas se apagam
E ele largou
Corrida difícil aquela
Parecia que não acabaria nunca
Toda vez que tinha uma reta
Dava para acelerar e chegar no limite da velocidade
Mas aparecia uma chicane ou um hairpin
Quando não era isso, eram os adversários no retrovisor
Perturbando, mostrando a cara, fazendo pressão

A largada tinha sido boa
Saíra na frente com uma certa desenvoltura
Contornou bem o S
Abriu certa vantagem
E permaneceu empolgado
Mas aí, depois do primeiro pit
Veio a chuva
O ritmo ficou mais lento
E o carro não estava respondendo direito
Parecia que ia desmontar a qualquer momento
E ao trocar seus pneus, a equipe errou
E atrasara mais ainda a sua corrida

Mas ainda sim partiu
Não restava mais nada a não ser lutar
Correr atrás, literalmente
Se viu só no cockpit
Sem contar com a equipe
E o carro que ele não conseguia segurar
A chuva apertou
A torcida, lá fora, estava praticamente desistindo
Mas o garoto aprendera a andar na chuva
E foi atrás, foi buscar

As curvas mais sinuosas
As chicanes mais aterradoras
Os hairpins mais cruéis
Já não lhe davam medo
Lembrou de antigamente
Quando fazer isso era botar a faca entre os dentes
Hoje com mais segurança
Era o mínimo do que poderiam esperar dele
E ele sabia disso
E pisou fundo
Foi pra cima
Atacou as zebras
E na reta subia aquele spray enorme
Recebeu um sinal de vida da equipe
Estavam informando que os adversários na frente ficavam mais próximos

Volta após volta
Os tempos foram baixando
E a confiança e a empolgação tinham voltado
E com isso, percebeu que a chuva se fora
E parou no pit pela segunda vez
Agora era tudo ou nada
Foi tudo
Na volta seguinte colou atrás do terceiro colocado
Na reta pegou o vácuo
O adversário ainda tentou jogá-lo contra o muro
Forçar a freada pra tirá-lo da pista
Mas não adiantou
Ele não tirou o pé e passou
Com tudo

Agora ele era caçador
Correndo atrás dos últimos dois
Voou sobre retardatários
Não perdeu tempo
Faltavam três voltas
No rádio adversário, o engenheiro berrava
- Careful, careful. He´s coming! He´s getting very close!
Não teve muito tempo pro piloto da frente se defender
Ele já vinha fazendo melhor volta sobre melhor volta

E passou voando, como se fosse fácil, muito fácil
Coisa que não era, não
E veio a penúltima volta e o último adversário a ser batido
O líder, exatamente o mais difícil
Chega – Ele pensou – hoje eu vou ultrapassar
E veio a aproximação, chegou
E o narrador maluco disse:
- Chegar é uma coisa, passar é outra!
E ele teve paciência de se aproximar com todo o cuidado
O momento de dar o bote todos sabiam:
Na reta de chegada
E saiu da curva bem colado e com o pé embaixo
Botou o carro de lado e pisou fundo

Um do lado do outro
Nem viram a bandeira branca da última volta
Pneu com pneu
Na curva, na freada, no final da reta
Os dois se espremeram
Roda com roda
Ele não aliviou e o outro carro foi parar na grama
Foi duro, mas foi limpo
Passou com autoridade e viu o adversário ficar pequeno no retrovisor
Contornou a chicane
Acelerou na reta oposta
O carro enfim tinha respondido à altura do que era
A equipe no rádio o mantinha confiante e informado de tudo que se passava
Eram só alguns metros
De vários e vários quilômetros percorridos

Tinha entendido enfim pra quê todas aquelas voltas
Um filme passara na cabeça, a imagem desde o início da corrida
Foi dura, foi longa e foi difícil
Mas foi uma corrida dentre as outras que ele já tinha feito
E pelas quais tinha que passar pra poder ganhar o campeonato
Campeonato esse que não tinha fim
E tinha que se correr, uma corrida após a outra

Vieram as últimas curvas
E, tranqüilo, ergueu o pulso fechado
Mostrando força e luta
Despontou na reta
A bandeira quadriculada balançava a primeira vez
Os torcedores aplaudiram efusivamente
Uma vitória e tanto
Gritava, só, naquele cockpit

Comemorava
Depois, tomou um banho de champanhe merecido
Sorriso largo
Abriu os braços
Ergueu o troféu
A corrida havia enfim terminado
Ele sabia disso

E estava pronto agora pra ser campeão

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Aquele Cara

Para Clélio

Encontrei aquele cara numa estrada da vida há uns 30 anos
Lá pela Bahia ou perdido pelo Rio de Janeiro, não lembro
Cabelo “Black-power”, bigode e fita no pulso
Camiseta branca, chinelo de dedo e uma calça jeans surrada
Não era bonito, mas era muito bacana
Muito mesmo
Aquele cara e eu seríamos melhores amigos se há trinta anos eu existisse
Tenho certeza
E mesmo sem existir, eu gostava da companhia
Conversávamos como dois velhos conhecidos
Contando histórias e não escondendo nada
Sem medo, sabe?
Um amigo mais velho
E já existindo eu passei a amá-lo
Mas como se ama um homem?
Pelo simples fato de ser homem?
Nunca me ensinaram
Mas o amor virou espelho
O caminho virou seta
As idéias viraram luz
A letra escrita mesmo longe
O amor que se construiu
Não por ser sentimento puro
Mas por ser mérito
Amor de admiração
Que por mais que paterno
É pelo que é
Não só pai
Mas homem
Não por agora
Sempre

O Último Episódio

Não sabia seu nome
Mas podia ser Ulisses, ou qualquer coisa
Era tarde já, tinha chuva
Tinha bebido
E tinha outro carro
E tinha dias cada vez piores
Os amigos chocados
A família perplexa
Mas ele permanecia ali, deitado
Mudo, sedado
Com ajuda de aparelhos
Em um pedaço de pano verde
E esparadrapos grudados na cabeça
E o tempo apagava a história
O segundo contra as décadas
Já não sabia seu nome
Quando ele despertou
E se levantou
Estava vestido como fim de festa
Camisa amassada e aberta, não tinha mais gravata
Smoking preto
Descalço
Saiu da sala
Caminhando lentamente por entre as pessoas
Que tristes não o viam
E ele permaneceu impávido
Andava
E não olhava mais pra trás
Rumo ao topo do prédio
Subiu as escadas devagar
Como sonâmbulo
E ao manter-se em pé no parapeito
Um cigarro aceso na mão
Era a primeira vez que ele olhava pra cima
Olhou a lua, linda
Sentiu a noite sem frio
E olhou a cidade
Um seio de índia era modelado pelos rios
O cigarro acabou
Ele sorriu
Sorriu e pulou
E foi caindo
Vagarosamente
De braços abertos
Sorrindo
E voou
Voou como Peter Pan
E foi rasante pela cidade iluminada de luzes amarelas
Lembrou de cada pedaço de vida e de história que vivera ali
E foi rumo ao rio
Sobrevoando, sentindo o vento na cara
Passava próximo à água
A tocava como se estivesse sentado em uma canoa
E fazia caminho como se fosse barco
Mas voava
E ia cada vez mais alto
Sorria
E olhava a lua
Ouviu o chamado que ela lhe fazia
E subia
Ia em sua direção
Foi ficando cada vez menor à minha vista
Lentamente foi se tornando um ponto sobre ela
Até que sumiu
E não sabiam seu nome mais
Mas sabiam que ele estava lá ainda
Olhando pra nós
E sorrindo

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Conversas com Jaci

Ele lembrava da primeira vez que realmente a viu
“Depois de terminar aquele livro”
Faz tempo, muito tempo
Desde então, passava noites só olhando
Como se seus pensamentos pudessem ser ouvidos
E apesar de dizer sempre muito
Era o silencio que respondia
Até que um dia...
É, um dia...
Parece mentira,
Mas ela respondeu
A noite estava linda
Do terraço do edifício era possível ver Belém iluminada como brasa
Na mão, um cigarro com gosto de memória
As tragadas forçavam suspiros meio reflexivos
Olhava pro céu, adorava aquele cenário
E ela tava linda, lá em cima, grande
Em meio a pensamentos
Ele suspirou mais uma vez:
- Ah, Jaci, se eu te dissesse...
Baixando a cabeça e olhando pro cigarro, imediatamente ouviu:
- Pode dizer!
Ele se espantou. Olhou pra trás procurando alguém. Nada
Olhou ao redor. Nada.
O silêncio era malmente entrecortado por um latido bem ao fundo.
- Que porra é essa?
- Sou eu, aqui em cima
- Mas como, por quê?
- Por que não?
Atônito, não sabia nem o que falar
- Desde quando, isso?
- Achei que fosse o momento pra responder
Conformado com a irrealidade, ele sorriu meio sem graça
- Ah, filha de Orfeu, e o que tens pra me dizer?
- Pra falar a verdade, não é muito não. Mas o que quiseres saber, acho que posso ajudar
- Sinceramente, não sei. Já falei tanto antes, que acho que já sabes de tudo. Ah, já sei! Por que te afastas a cada dia que passa?
- Não sei, ando meio confusa.
- Ah, já vi que não é à toa que só te dão nomes femininos. Lua, Jaci, Iaci... Bom, gostaria de saber se um dia poderei chegar bem perto. Seria uma coisa bem maluca.
- Acho que não demora muito não, teus amigos já tiveram por aqui, coisa rápida, e nunca mais voltaram. Homens, hum. Pra gostar de mim só cachorro ou doido...
- Ha, Ha, Ha, Há! Não conhecia esse teu lado assim, bem humorado. Mas peraí, eu gosto!
- Eu sei, por isso estamos conversando
- Ainda mais cheia assim, fica mais linda.
- Tá me chamando de gorda?
- Não, não. É só uma questão de iluminação, entende? Eu gosto da parte iluminada. Tem gente que só fala sobre o lado escuro, mas eu prefiro o claro, viu?
- Ah, bom. Sendo assim... Mas sim, fazia tempo que não te via, hein?
- É verdade, andei tendo uns problemas por aí, mas agora tá tudo certo. Vim aqui de novo atrás desse momento de paz.
- Então, às vezes me sinto esquecida um pouco aqui em cima. Ajudei tanto a equilibrar as coisas aí com vocês, mas tem dias que parecem que as coisas aí ficam meio malucas, não sei bem.
- Realmente, a gente ta meio que desfazendo tudo que tu fizeste por nós. Mas eu não sei nem se tem volta esse processo, já tava assim antes de eu nascer, então é meio difícil de resolver.
- Bem que poderias pensar em alguma coisa.
- Prometo que vou tentar, ainda digo que foi a lua que me disse.
- Não disse, só os cachorros e os doidos... “a lua me disse”
- Devo ser meio maluco mesmo... Ou então é esse cigarro aqui...
- Ah, não fique assim, ainda tem conserto, pra ti e pra minha mãe
- Olha, vou te dizer, eu moro aqui. Mas qualquer dia desses, eu vou embora e nunca mais volto, ah se vou!
- Ah, e vai pra onde, bonitinho?
- Praí contigo, ora!
- Ah, não vais gostar. Sou bonita só de longe
- Tudo bem, eu gostei da nossa conversa, é bom ter com quem conversar
- Tá difícil achar alguém assim por aí?
- Tá, pior que tá. Mas não podes me culpar de não tentar.
- Eu, longe disso.
- Ah, mas sem problemas, acontece. Agora que tou te conhecendo melhor, acho que podemos falar mais, não?
- Claro. Enquanto esse mundo aí girar e girar, eu vou estar sempre aqui.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Eu e o boi, o boi e eu...

Já tiveste a sensação de se sentir observado? Não no meio da multidão, mas no meio do nada. Aconteceu uma vez comigo...

O ano era 2004 e eu tava tendo uma experiência nova pra um recém-formado: dar aulas. Nunca tinha sido nem monitor de turma, além de durante muito tempo, aliás durante a maior parte da minha vida, ter sido um poço de timidez.

Bem, uma semana depois de sair de um trabalho em uma agência, recebi a ligação de um amigo falando sobre uma proposta para dar aulas num curso técnico de design de jóias em Itaituba, no interior do estado (distante mais ou menos 900km de Belém). Sem ter perspectivas de trabalho e sem vontade de correr atrás até o próximo ano (era final de novembro), a missão era ministrar uma disciplina de introdução ao design e história da arte, tudo isso, na semana seguinte da ligação.

Uma semana depois do aceite sem muito pestanejo, chego em Itaituba. A escola técnica de produção de lá ficava distante uns 10km do centro da cidade, na tão famosa transamazônica. O caminho até a escola foi surpreendentemente bom, era tudo asfaltado, aliás, o asfalto ia até a escola, depois era aquela coisa que a gente vê na TV. A escola era bonita, bem organizada, mas era tudo muito novo, as máquinas, as instalações, aquele cheiro de tinta ainda e, pra minha surpresa ainda não tinha telefone nem internet no ambiente. Logo eu que era viciado nessas coisas.
A história toda ia durar uns 20 dias apenas, mas logo q eu comecei a dar aulas e passar o resto do dia sem muita coisa pra fazer que eu pude sentir o tempo dilatar e se tornar quase interminável. Eu ficava numa casa dentro da escola mesmo dedicada aos professores visitantes, ao lado de outra casa dedicada às professoras na mesma situação, tinham duas lá, uma bacana e outra chata.

Tudo ia transcorrendo nessa monotonia total, entrecortadas por alguns dias em que dava pra fugir um pouco pra cidade na carona de um professor e eu matava a saudade da internet em uma lanhouse qualquer, até que chegou o final de semana. O que era chato se tornava pior, já que todos os alunos sumiam, assim como os outros professores e a civilização se fazia mais distante.

A escola era cercada por fazendas, ficava um breu durante a noite, fazendo com que os postes que iluminavam a área tornassem visíveis apenas onde a luz batia no chão. Em meio aquele cenário noir, numa noite sem muita nuvem, eu fumava um cigarro na janela do quarto olhando pra cima e meditando sobre as coisas da vida e como era que eu tinha vindo parar lá. Nesse momento bateu a sensação de sentir-se observado e também o medo, sabendo que tinha poucas almas vivas dentro daquela escola. Eis que eu vejo depois da cerca que ficava a poucos metros da janela um boi me olhando como se estivesse fumando um cigarro e meditando sobre coisas da vida também.

Eu continuei fumando e olhando pro boi como se conversasse com ele sobre aquele momento, aquele sentimento de solidão e ele completamente parado, me encarando, parecia que a qualquer momento ele ia dizer alguma coisa, tipo quando alguém me conta alguma coisa e espera que eu dê um feedback. Por alguns instantes eu esperei o boi dizer alguma coisa do tipo: - “Bicho, é o seguinte... No fim das contas mesmo, sou eu e tu e tu e eu...”, mas como o que eu fumava um Hollywood mentolado e não outras coisas mais pesadas, o boi não abriu a boca nem prum “Muu!” básico.

Não sei o motivo, mas a surrealidade da cena ficou na minha cabeça por uns tempos e sempre quando eu tenho esses momentos reflexivos sobre a solidão ou então sobre a questão da vida fora do sistema solar, que não deixa de estar ligado ao primeiro assunto, eu me lembro deste causo.

Talvez o que ele tenha querido me dizer mas não teve palavras pra expressar suas idéias é que realmente somos sós ao tomarmos caminhos e decisões nas nossas vidas mas que mesmo em momentos assim é possível não se sentir só no mundo.

Sem abrir a boca, aquele boi me disse coisas interessantes mais do que muita gente nesse mundo, e eu comecei a entender os caminhos e as decisões que as pessoas tomam que por mais que te levem a lugar e momentos inesperados são extremamente importantes pra nossa própria formação e amadurecimento.

Enfim, lembrei dessa história quando o Marcel e a Gabi (o casal pimbinha) deram início a jornadas solitárias mas que vão fazer muito bem aos dois.

Dedico este post a eles e desejo toda sorte nessa empreitada.

: )

quinta-feira, 29 de maio de 2008

See you in june...

Aperta no play deste vídeo e deixa carregando..



Agora, presta atenção nisso...

Eu tenho um problema de karma com junho

Não é só por conta do meu aniversário e os infernos astrais que acompanham uma mudança de idade que surgem...

É pior que isso

Aliás, é melhor do que isso

Porque por mais que a minha vida esteja ruim, em junho sempre melhora

Sempre acontece alguma coisa que muda a minha vida, pelo menos até o próximo junho

Já teve anos que bati o carro, perdi amigos, fiquei desempregado, sem estágio...

E nos mesmos anos, em junho, troquei de emprego, consegui emprego, ganhei uma afilhada, me apaixonei, e um monte de coisas boas, enfim...

Bom, este ano não foi diferente...

Aliás, teve diferença sim...

Este ano foi tudo junto!

Três dos pilares que sustentam a vida de um homem: família, trabalho e relacionamento resolveram entrar em parafuso e me testarem pra saber se eu estava pronto pra uma vida de adulto realmente

Bom, foram três meses muito duros e é lógico, me derrubaram mesmo

Foi uma pressão que em vários momentos eu pensei que não fosse dar conta

Mas, eis que junho vem chegando

E com eles, as boas notícias, os bons ventos, as boas mudanças

Que já estão chegando, antes mesmo de junho

Que neste ano, os males queimem nas fogueiras de junho

E que as alegrias se abasteçam de vatapá e canjica

Agora, você já pode apertar no play e ouvir o billy corgan cantar:

Planned a show
Trees and ballons
Ice cream snow
See you in june

Te vejo lá

: )

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Uma Semana

Ali sentado na beira, o silêncio

Sem vento, sem barulho de criança, nem sequer ouvia sua respiração

Mas ali, sentado na cabeça, o pensamento

Inquieto, nervoso, ligeiro

Era tudo ao mesmo tempo, os prazos, as promessas, os casos

Não tinha tempo para te olhar

Apesar de não fazer nada

O que tem pra fazer?

O que posso fazer?

Ah, vai lá e faz, ele dizia

Mas a cabeça não deixa

Muita coisa pra fazer

Muita decisão pra tomar

E o tempo que era muito

Virou tempo nenhum

Em uma semana

Isso tem que se resolver

Em uma semana

Isso vai acabar

Os medos, as dúvidas, os caminhos

Os casos, as promessas e os prazos

Vão se transformar

Em uma semana

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Um momento, qualquer momento...

Em meio a contas a pagar, dinheiro a receber, prazos a cumprir.... Momento algum, diria.. Momento em que não se lembra, mas sempre existem esses momentos. Aliás, isso é uma coisa que me atrai. Grandes conquistas, grandes shows, grandes fodas, tudo isso são momentos importantes na vida de qualquer um, mas todo mundo se lembra disso, o que ninguém lembra são esses momentos de nada, de coisa alguma, onde só se pensa, se ouve, nenhuma ação, nada programado para o minuto seguinte...

Tou cheio de coisas pra fazer, mas só consigo pensar no que vou fazer com este momento agora, alguma coisa importante, não pra minha história, não pra eu contar para os meus netos, mas para que na hora dos créditos eu saiba pesar o quanto desses momentos eu tive e o que eu necessariamente fiz com eles...

Pensar no futuro? Avaliar a minha vida até aqui? Com a minha idade, a maioria dos gênios tinham feito já a sua grande obra. Isso é bom? Não sei, mas o que fizeram do seu resto de existência? O bom de tudo é quando ele ainda existe e não quando ele já acabou, porque só ficam as lembranças e pensamentos do momento. Já se chegou ao porto, ao final da estrada? E agora? O filme já acabou! E como é que fica? Não vai fazer mais nada? Não procura coisa alguma? Talvez se alimentar, talvez dormir, talvez cagar, talvez foder!

Sei lá! No momento não estou pensando em nada, aliás, só pensando em nada!

Poderia estar aqui, à beira de uma praia numa ilha perdida no pacífico, quem sabe? Que diferença isso faz? Quantos já pensaram a mesma coisa neste momento? O que será que vai acontecer daqui a mil anos? Faço a menor idéia, será que os egípcios faziam? Os gregos? Os romanos? Os marajoaras? Esses povos que não ficaram pra história, que não fizeram dos seus montes de momentos, alguma coisa para colocar no livro de história? Será que isso é não ser importante? Que diferença isso faz afinal, eles não estão aqui mesmo? Ou vivendo uma vida eterna ou sendo inexistentes para a evolução da espécie. Eu não quero inventar nada importante, quero só saber de coisas boas que possam ser construídas? Não tenho o orgulho de uma guerra vencida, ou uma derrota sofrida, pra mim tanto faz, isso não é importante no momento. Na verdade, não sei se isso é importante em qualquer momento, mas, digamos, também não quero viver eternamente sobrevivendo... pagando contas no final do mês, comprando carro, bebendo cerveja, quero entender uma série de coisas, quero pensar, quero viver pensando, sentado à beira de uma praia no meio do pacífico, só pensando sobre a vida, a existência e não naquele filho de uma puta que me fechou no trânsito, isso pra mim não importa...

Meio maluco isso, reconheço... mas se colocarmos as coisas com que nos ocupamos ultimamente, vai ver quanto dá de coisa realmente necessária, pra você logicamente, não pros outros...

Talvez daqui a algum tempo eu viva a vida dos outros, dos filhos, fique preocupado o que vai ser deles quando eu me for, ou o que eles vão ser de importantes na vida, não posso prever.

Mas só por este momento, garanto que não me responsabilizo por nada.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

O Muro Verde

O que será que tem por trás desse muro verde?
Cercando vidas, histórias, culturas e um povo que sempre quer voltar?
O que acontece se eu ultrapassá-lo?
Será uma borda deste ninho quente?
Será que vai ter medo, solidão, aventura?
Eu sei que esse muro não cerca, acolhe
E que cada um que o atravessa leva um pedaço junto
Eu vou levar um pedaço junto
Eu vou encontrar mais pedaços pra juntar
Por que então, medo?
Esta é minha aldeia, meu aconchego
Minha aventura, e agora minha solidão
Então por que, medo?
Já não é cedo para se preocupar
Mas não é medo de se levantar?
Eu não consigo parar de pensar
Mesmo que meus olhos não te alcancem
Mesmo que a chuva te esconda
Mas quem vai dizer que não é hora de fazê-lo?
Eu vou?
Só quem te pertence percebe
Só quem te conhece entende
E quando o sol se esconde atrás de ti
Eu digo pra mim mesmo
Maria, não quero ir
Mas eu me encosto em tuas pedras
E o barulho da maré nos meus pés
Ensurdecem minha cabeça
E como filhote de urubu
Eu sinto medo de voar
O despertador tocou
E eu perguntei
Não é cedo pra ter medo de se levantar?

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Depois da chuva...

Amor,
A chuva passou
Vem pra fora ver
Os primeiros raios de sol
Tocarem o nosso rosto

Levanta,
Arruma as coisas
Leva só o necessário
Sente o cheiro da rua molhada

Escolha as melhores roupas
Joga fora o que não servir mais
Olha no espelho
Olha nos seus olhos
E sorri

Deixa,
Que a chuva lavou
Levou e apagou
O caminho de marcas de pé

Chuva,
O amor passou
Vem pra fora ver
Os primeiros rostos
Tornarem o nosso raio de sol

quinta-feira, 24 de abril de 2008

House of Cards

O Radiohead fez uma apresentação em um programa de entrevistas do canal NBC, em Nova Iorque, mas sem viajar até lá. Permaneceram na Inglaterra e fizeram ao vivo em um estúdio. A razão? Thom Yorke explicou...

"The reason we’re not there is because we’re here. Because it’s a bloody long way. And every time you fly to New York it’s the equivalent of driving your car for a whole year in CO2 emissions. Thom Yorke dedicated the song to “that ****** who walked away from Kyoto agreement”.



I don't wanna be your friend
I just wanna be your lover
No matter how it ends
No matter how it starts
Care about your house of cards
And I'll deal mine

Forget about your house of cards
And I'll deal mine
Forget about your house of cards
andI I'll deal mine

Fall off the table
Get swept under

Denial, Denial

The infrastructure will collapse
From vaulted spikes
Throw your keys in the bowl baby
Kiss your husband good night

Forget about your house of cards
And I'll deal mine
Forget about your house of cards
andI I'll deal mine

Fall off the table
Get swept under

Denial, Denial

Denial, Denial

Your ears should be burning

Denial, Denial

Your ears should be burn

quarta-feira, 23 de abril de 2008

O ônibus azul

Hoje, acordei um pouco diferente. Estava me sentindo estranho. Não sabia dizer onde eu estava. Era um quarto grande e branco, tudo era muito branco. O quarto tinha um colchão imenso e um telefone próximo. Só tinha uma porta e uma luz em cima. Caminhei para a porta, abri e encontrei um corredor enorme à minha esquerda e tinha um espelho no meu lado direito. Me olhei no espelho e então eu percebi: Eu estava totalmente preto, como se fosse uma forma sem rosto, sem marcas, nem definições. Era simplesmente uma forma preta. Como poderia ter me transformado nesta forma que estava nesse mundo estranho e sem cor?

Caminhei em direção do corredor à minha esquerda, era um longo corredor muito claro, muito branco. Depois de algum tempo tentando achar o fim, cheguei até uma porta azul. Não pensei duas vezes e tentei sair desse pesadelo através da porta azul. Era uma festa com várias formas humanas brancas que pareciam homens e formas azuis que pareciam mulheres, vários deles, mas o mesmo formato. A música era angustiante e intrigante, falava algo que eu não entendia, era uma língua estranha, mas eu entendia que aquilo me chamava pra me tornar branco ou azul. O ambiente era completamente estranho, como se estivéssemos dentro de um grande cubo branco, ou era azul? Não conseguia dizer...

Continuei andando e olhando as pessoas, eu era o único diferente, mas aquilo parecia não ter a menor importância. Eu era invisível! – pensei – ou então estava morto? Será que a morte é isto? Tudo que eu conseguia ver eram formas brancas e azuis, paredes e lugares sem saída. O cubo era gigantesco, e a multidão de homens e mulheres formas não terminava, nem o lugar. As formas se beijavam, dançavam aquela música alucinógena. Lembrei-me que as espécies têm visões diferentes, uns vêem cor, outros não. Era isso então que eu tinha me tornado, um outro ser, mas não humano? Qual seria então o jeito certo, o jeito real de ver as coisas?

Sentei-me num único banco, branco, vazio, apesar de toda aquela gente. Tentei achar alguma diferença entre aqueles seres humanos ou não, sei lá. Eu era uma forma preta, num mundo branco onde as mulheres eram azuis e os homens brancos. Algumas horas se passaram enquanto eu estava sentado tentando entender o que tinha acontecido, o que aquilo significava, que tipo de sonho era aquilo? O telefone! O telefone seria a saída!

Rapidamente tentei achar a porta azul de volta e, de repente não conseguia correr. Já sei, nunca consegui correr em meus sonhos, era isso, era um sonho! Droga! Na certa eu sabia que isso não era um sonho, não parecia sonho de jeito nenhum, era muito real pra ser um sonho, eu sentia isso. Parecia que eu corria debaixo d água, uma resistência muito forte a ser vencida com velocidade. Por sorte, eu, aquele homem-forma preta invisível achei a porta azul. Percorri o corredor mais rápido que eu pude, um tanto tempo depois eu cheguei a porta branca, mas ela estava em outro lugar, ela estava à minha esquerda do outro lado onde ela deveria estar. O espelho continuava o mesmo, com a mesma forma preta olhando para ele. Entrei na porta branca e era o mesmo quarto, mas o avesso do primeiro. O mesmo colchão e o mesmo telefone. Peguei o telefone e alguém parece que estava me esperando do outro lado, uma mulher, falando uma língua mais estranha do que a cantada nas músicas alucinógenas daquele cubo imenso. De repente a pessoa pareceu se despedir de mim e bateu à porta. Eu fiquei extremamente assustado com isso, queria logo sair desse pesadelo. Abri a porta e lá encontrei um bilhete com inscrições conhecidas, legíveis e me dizendo apenas: “encontre-me atrás do ônibus azul”.

Ouvi uma porta se fechando, mas ela não vinha da minha esquerda, ela vinha do espelho. Senti angústia, olhei para o espelho, era a minha forma preta, mas não era eu, não acompanhava meus movimentos. Chamava-me com as mãos e começou a dizer com a minha voz: “tome as rédeas! Tome as rédeas!” Fiquei paralisado com aquilo, como se tivesse hipnotizado, enfeitiçado, dominado por algo que eu sabia que era eu mesmo me dizendo: “o ônibus azul está nos chamando!”

Já não controlava meus movimentos, fui em direção ao espelho e ultrapassei-o. Comecei a cair no escuro, meus movimentos se dilataram, meus movimentos dilataram, eu não conseguia mais gritar! Silêncio total! Eu não ouvia meus gritos! Eu não ouvia meus gritos, só ouvia a minha própria voz na minha cabeça dizendo “tome às rédeas! Tome as rédeas!”
Enfim, caí em cima de um colchão, numa sala completamente escura, parecia ser a mesma sala de antes. Então a porta se abriu, um clarão se fez sobre a minha vista e eu escutei o barulho do telefone fora da sala. Não tinha mais o que fazer senão ir atrás. Era uma garagem sem cor, com um ônibus azul e a voz do telefone em uma forma feminina vermelha, dizendo somente “o ônibus azul está nos chamando!”. Ela estava sentada no assento do motorista e eu entrei no ônibus. A porta da garagem se abriu e eu vi um mundo cheio de cores, então esta mulher me levou para fora.

Prefácio...

Esta estória que eu vou postar tem no mínimo uns cinco anos. E como disse que poderia colocar coisas que nem eu mesmo concordava ou nem gostasse mais, resolvi publicá-la na íntegra, só com algumas correções gramaticais e de pontuação.

Não vou modificar o conteúdo porque o autor dela (Eu, tempos atrás) era uma pessoa diferente que pode de uma forma ou de outra não gostar da minha intromissão na estória dele.

Hope you like it

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Sei o caminho dos barcos...

Claude Monet: The Studio Boat

Nessa vida, nós somos como barcos
E como barcos, precisamos sempre aportar
Senão a maré leva, e ficamos à deriva, por aí, ao acaso das intempéries da vida
É preciso sempre amarrar as cordas em cabeços de portos seguros
A gente vai fazendo isso durante toda a vida
Cada vez mais e mais, alguns se soltam, submergem ou simplesmente afrouxam
Mas eles tão sempre ali
Mesmo quando a gente pensa que algumas cordas estão desamarradas
Mesmo que a gente ache que é necessária só uma corda
Muitas vezes a gente acha que é necessário só uma corda
Mas para ser só uma e continuar firme, te segurando pra não ir embora
A corda precisa ser maior e o nó mais forte
Só que o nó não é laço
Ele é apertado, sufocante e com o tempo fadiga
Fadiga e pode arrebentar
Fadiga e quando tu menos esperas
Estás solto, indo onde a sorte desejar
E então, a vida, a sorte, Deus, ou quem quer que seja
Te surpreendem de novo
E quando vês, as cordas que pareciam ter sumido vêm à tona
E te trazem de volta
Te puxam com força
Pra um novo porto seguro

Obrigado às minhas cordas!
Ninguém faz nada sozinho
Boa semana à todos

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Don´t get any big ideas...

Existe milhares de coisas que eu gostaria de escrever sobre.

Mas a maioria delas já foram ditas

É este o caso



Don´t get any big ideas
They´re not gonna happen
You paint yourself white
And fell up with noise
But there will be something missing

And now that you´ve found it, it´s gone
And now that you fell it, you don´t
You´ve gone off the rail

So don´t get any big ideas
they´re not gonna happen
You´ll go to hell for what your dirty mind is thinking


Um beijo a todos

Fiquem próximos

segunda-feira, 7 de abril de 2008

A Bola do Jogo

Esperava por isso a semana inteira
Com um olhar perdido, calçava as meias
Como se pensasse em tudo ao mesmo tempo
Sem respostas,
continuava o ritual
Bolsa, toalhas e chaves
Tudo ali, pronto

A chuva, as luzes
O trânsito
O trabalho difícil
O pensamento longe

O verde
os abraços
e a bola
Que veio em sua direção
como um cão a lhe recepcionar,
a esperar pelo afago
Com carinho a sentiu
e chutou pra longe
pra saber até onde ia
até onde podia

E ela rolou, entre homens diferentes
à espera de algum rumo
de alguém que lhe quisesse
mas que quisesse chutar pra longe

Entre chutes, gritos, erros
O que se sentia
Era a alegria de esquecer
Já não havia dor
Quando a bola chegou aos seus pés
E ele decidiu que era hora
E partiu, correndo
Como um faminto atrás de um prato
Veio a trombada, o drible, a pegada
Pelo momento, o mais difícil de seus problemas
Não mais importava, nem sua vida
Nem sua história,
Eram todos iguais agora
Tentando esquecer,
continuar

Não havia mais nada
Quando parou e o goleiro caiu
Chutou
como uma injeção de vida
que entra na veia
Como um remédio
que cura qualquer mal

E em seu peito,
Por um instante, a paz
Não havia mais nada
Só o desabafo
E o grito de gol

O coração suado
Com forças pra agüentar
Até a próxima semana

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Radiohead na BBC

Embedded Image

O radiohead está começando a entrar em turnê. Começa mesmo mês que vem, e eu ainda tenho esperanças que eles venham um dia ao Brasil. Em vida, ainda verei um show.

No site da BBC tem o audio do show que eles fizeram em um programa de rádio, que foi divido em duas partes: a primeira pela tarde e a segunda pela noite, este é o da noite:

Essa playlist é matadora:

Bodysnatchers
All I Need
Nude
Airbag
Reckoner
The Tourist
House of Cards
Arpeggi
Lucky
Everything in its right place

Se eu já quase tenho um negócio só de ouvir, imagine o dia que eu estiver presente.

Abraços a todos

In a neon sign scrolling up and down, I am born again

UPDATE: Para download do show, clique aqui

quinta-feira, 3 de abril de 2008

A Luta

De olhos fechados ouvia uma voz ao fundo gritar, contando segundos intermináveis:

- 57! 58! 59! 60!

Tentei abrir os olhos, mas luzes rodavam à minha cabeça, minha vista era embaçada e eu sentia dor, muita dor! No meu rosto, no meu peito, nos meus braços, tudo estava ardendo como se tivesse caído no chão violentamente.

Aos poucos, fui recobrando a consciência, vi que estava deitado sobre um chão frio, úmido, fétido, que as luzes eram na verdade refletores. Tentei sentir meu rosto com as mãos, mas nelas existiam luvas. Luvas? Luvas de boxe!

- Que porra é...?

Quando dei por mim, estava num ringue de boxe, em um galpão velho, mal iluminado além daquele quadrado rodeado por cordas negras e dentro dele havia uma estátua, não gigante, mas bem maior do que eu, uns três metros de altura, diria. Ali, imóvel, impávido, em forma de homem, um bem forte. Não entendia nada, quando percebi de onde vinha aquela voz que contava, e já estava bem adiantado:

- 121! 122! 123! – Um homem careca com a camisa listrada contava gritando.

- Que porra é essa? - Perguntei

- 124! 125! 126! – Continuava sem hesitar.

- Ei, to falando contigo! Que porra que eu tou fazendo aqui?

Nada. Só contava, mexendo o braço, como se me esperasse desistir. Levantei o tronco, fiquei sentado, recuperando as minhas forças, não entendendo o que tava acontecendo ali. Com dificuldade fui me postando de pé e quando finalmente consegui me reerguer, a estátua se moveu, rápido, como um touro, veio em minha direção e me aplicou um soco certeiro no meio da cara com tanta a força, mas tanta força que meus pés levantaram ao cair para trás, de cara no chão, com a boca sangrando, e cuspi alguns dentes. A estátua voltou a ficar imóvel e o careca voltou a contar:

-130! 131! 132!

- AAAHHHHHH!!!

Que dor! Que dor infernal! O que era aquilo, meu deus? Que porra de monstro de pedra é esse? E por que eu tava lutando? Nunca nem briguei no colégio. O que é isso?

A dor me consumia ao mesmo tempo em que o sangue se espalhava pelo chão. Atordoado, sem saber o que fazer, tentei me arrastar pra fora do ringue, mas não consegui. Não podia sair dali. E agora, se eu ficar em pé esse bicho me ataca de novo. O careca já tinha aumentado a sua conta em muitos números e eu ali sem saber o que fazer.

Decidi me levantar de novo e mal cabia em pé e o cara de pedra já me atacava, ferozmente, desferiu jebs, cruzados, diretos e por fim quando cai de joelhos, um golpe nas minhas costas com as duas mãos que mais pareciam um machado.

Levantei mais uma vez e cada vez mais golpes, mais sofrimento sobre meus pés e apanhando muito. Os números se multiplicando e eu ali, caindo pra levantar pra cair de novo. Quanto mais o tempo passava, mais tempo eu conseguia ficar em pé e mais golpes eu levava até não conseguir resistir e ir pro chão de novo. Quando o careca tava lá pelos seus quinhentos e pouco, eu já me jogava no chão de propósito quando não agüentava.

- Meu Deus, como é q eu saio disso? - Fiquei estático, sentindo dor, agora não tinha parte do meu corpo que não estivesse ardendo. Comecei a me desesperar, e agora, o que eu faço?
Aquilo tava me cansando e eu ficava cada vez mais puto, e o cara gritando no meu ouvido só piorava a situação.

- Cala a boca, desgraçado!

Era como se eu não estivesse ali. Continuava. Como um robô.

Sem saída. Sentado. Olhando aquilo acontecer e não acreditando. O que eu tinha que fazer? Enfrentar essa... coisa até eu morrer? Comecei a ficar desesperado, olhar em volta e nada, não tinha absolutamente nada, nem ninguém que pudesse me dar uma luz. Chorando, gritei:

- Por que eu tenho que me levantar daqui? Por quê? Por quê? Por quê? – socava o chão com toda a força do mundo.

De repente, o careca parou de contar.

Encarei. Ele ficou parado, olhar perdido. Sem entender, comecei a sentir raiva. A raiva me subia, transformava-se numa ira fulminante, em ódio, eu gritava cada vez mais alto, até não conseguir mais ouvir meus próprios gritos.

Sem perceber, estava de pé, o monstro de pedra veio em minha direção e eu o encarei. Ele desferiu o golpe em mim e eu me defendi.

Então, senti o braço dele ruir, estalando como um prédio desabando, quebrando em pedaços e o monstro ficou de joelhos. Ficamos cara a cara e com toda a força dei um soco em seu peito que afundou a minha mão e foi rachando seu corpo em pedaços, se desfazendo bem na minha frente.

Exausto, dobrei meus joelhos e apoiei minhas mãos no chão.

Em pé, fora do ringue, o careca suspirou e falou:

- Fim de combate!

Bem-vindos

Sejam bem vindos ao meu blog.

Aqui vou colocar um pouco das coisas que escrevo ou que já escrevi sobre reflexões, vidas, paixões, amores, dores e aquilo que passar pela minha cabeça.

Algumas coisas podem parecer estranhas e não fazerem sentido, mas não se preocupem, às vezes nem eu realmente entendo o que escrevi depois de algum tempo.

As coisas que aqui serão lidas representam um retrato de determinado momento, não necessariamente uma idéia elaborada metodologicamente pretendendo ser uma tese científica, são só espasmos de opiniões que podem até certo ponto ser discordantes inclusive de mim mesmo.

Sem pretensões literárias, só um monte de idéias que surgem e vão sendo dedilhadas em algum teclado.

Fiquem à vontade nesse meu cantinho de mundo e não reparem na bagunça.

Abraços

segunda-feira, 31 de março de 2008

Manifesto

Homem, um ser que pensa e ama.

Pensa e sabe onde pertence. Pertencer não é estar, é fazer parte, caber, ser próprio. E onde eu pertenço, a que pertenço? Meus valores, meu lugar, meus óculos criam em mim um retrato de quem sou e o que quero.

Eu pertenço a um povo que diante do inesperado e estranho ser que lhe surgia à frente, assustava-se e admirava uma realidade que nunca era lhe vista. Sem saber dos desejos daquele visitante, pôs-se a ajudar, a ensinar e não viu quando o que aqueles homens brancos com trovões em suas mãos queriam era lhe dizer que sua vida, seu modo, seu lugar, estavam errados. Que deveriam se curvar e obedecer a um outro ser, o homem, individual no lugar do povo.

Sem entender e sem adaptar-se, lutou e morreu, e ainda morre até hoje por não entender o seu papel na história, por não entender que aqueles homens que vivem de acumular coisas já não conseguem mais acumular tudo o que queriam, porque o mundo não agüenta mais.

Mas eu também pertenço a um mundo que já estava criado, onde colonizadores e colonizados se misturaram incessantemente e de tanto o fazerem tornaram-se iguais, irmãos e pertencentes a uma vida comum, de desejos comuns, de histórias comuns. Deste mundo eu poderia fazer parte, caber, ser próprio de, mas não consigo me imaginar sem estes genes e este sangue correndo dentro de mim.

Não posso mais voltar atrás, não pertenço mais aquele lugar, aqueles costumes, aquele modo de vida, mas sou diferente do não-lugar que aqui existe e é o que me faz beber daquela água, é o que me faz olhar, com meus olhos de hoje pra um passado e entender meu lugar neste mundo.

Eu sou um índio, de plástico, de borracha, que habita esse mundo como outro ser em outro lugar, mas ainda sim, filho desta floresta.

Sou marajoara, cabano, pós-moderno. Não são apenas meus atos, meus gostos e meu jeito que me norteiam, mas o meu pertencimento a este lugar, a esta história.

E você, pertence a quê?