segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O Grande Prêmio

Cinco luzes vermelhas se apagam
E ele largou
Corrida difícil aquela
Parecia que não acabaria nunca
Toda vez que tinha uma reta
Dava para acelerar e chegar no limite da velocidade
Mas aparecia uma chicane ou um hairpin
Quando não era isso, eram os adversários no retrovisor
Perturbando, mostrando a cara, fazendo pressão

A largada tinha sido boa
Saíra na frente com uma certa desenvoltura
Contornou bem o S
Abriu certa vantagem
E permaneceu empolgado
Mas aí, depois do primeiro pit
Veio a chuva
O ritmo ficou mais lento
E o carro não estava respondendo direito
Parecia que ia desmontar a qualquer momento
E ao trocar seus pneus, a equipe errou
E atrasara mais ainda a sua corrida

Mas ainda sim partiu
Não restava mais nada a não ser lutar
Correr atrás, literalmente
Se viu só no cockpit
Sem contar com a equipe
E o carro que ele não conseguia segurar
A chuva apertou
A torcida, lá fora, estava praticamente desistindo
Mas o garoto aprendera a andar na chuva
E foi atrás, foi buscar

As curvas mais sinuosas
As chicanes mais aterradoras
Os hairpins mais cruéis
Já não lhe davam medo
Lembrou de antigamente
Quando fazer isso era botar a faca entre os dentes
Hoje com mais segurança
Era o mínimo do que poderiam esperar dele
E ele sabia disso
E pisou fundo
Foi pra cima
Atacou as zebras
E na reta subia aquele spray enorme
Recebeu um sinal de vida da equipe
Estavam informando que os adversários na frente ficavam mais próximos

Volta após volta
Os tempos foram baixando
E a confiança e a empolgação tinham voltado
E com isso, percebeu que a chuva se fora
E parou no pit pela segunda vez
Agora era tudo ou nada
Foi tudo
Na volta seguinte colou atrás do terceiro colocado
Na reta pegou o vácuo
O adversário ainda tentou jogá-lo contra o muro
Forçar a freada pra tirá-lo da pista
Mas não adiantou
Ele não tirou o pé e passou
Com tudo

Agora ele era caçador
Correndo atrás dos últimos dois
Voou sobre retardatários
Não perdeu tempo
Faltavam três voltas
No rádio adversário, o engenheiro berrava
- Careful, careful. He´s coming! He´s getting very close!
Não teve muito tempo pro piloto da frente se defender
Ele já vinha fazendo melhor volta sobre melhor volta

E passou voando, como se fosse fácil, muito fácil
Coisa que não era, não
E veio a penúltima volta e o último adversário a ser batido
O líder, exatamente o mais difícil
Chega – Ele pensou – hoje eu vou ultrapassar
E veio a aproximação, chegou
E o narrador maluco disse:
- Chegar é uma coisa, passar é outra!
E ele teve paciência de se aproximar com todo o cuidado
O momento de dar o bote todos sabiam:
Na reta de chegada
E saiu da curva bem colado e com o pé embaixo
Botou o carro de lado e pisou fundo

Um do lado do outro
Nem viram a bandeira branca da última volta
Pneu com pneu
Na curva, na freada, no final da reta
Os dois se espremeram
Roda com roda
Ele não aliviou e o outro carro foi parar na grama
Foi duro, mas foi limpo
Passou com autoridade e viu o adversário ficar pequeno no retrovisor
Contornou a chicane
Acelerou na reta oposta
O carro enfim tinha respondido à altura do que era
A equipe no rádio o mantinha confiante e informado de tudo que se passava
Eram só alguns metros
De vários e vários quilômetros percorridos

Tinha entendido enfim pra quê todas aquelas voltas
Um filme passara na cabeça, a imagem desde o início da corrida
Foi dura, foi longa e foi difícil
Mas foi uma corrida dentre as outras que ele já tinha feito
E pelas quais tinha que passar pra poder ganhar o campeonato
Campeonato esse que não tinha fim
E tinha que se correr, uma corrida após a outra

Vieram as últimas curvas
E, tranqüilo, ergueu o pulso fechado
Mostrando força e luta
Despontou na reta
A bandeira quadriculada balançava a primeira vez
Os torcedores aplaudiram efusivamente
Uma vitória e tanto
Gritava, só, naquele cockpit

Comemorava
Depois, tomou um banho de champanhe merecido
Sorriso largo
Abriu os braços
Ergueu o troféu
A corrida havia enfim terminado
Ele sabia disso

E estava pronto agora pra ser campeão

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